sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Continuação Noite Negra Interior - Final

(Segunda parte)

Estava sem nenhuma opção, o medo que ardia em minhas entranhas era maior que qualquer iniciativa, acabei por fim, deitando novamente em minha cama, cobri a cabeça e como uma criança assustada, fiquei com os olhos abertos esperando ver algo se esgueirando pelo meu quarto, mas não acontecia nada, tudo estava em silêncio, a não ser o tic-tac do meu relógio. O gato Félix estava vivo novamente e isso indicava que a luz voltara para meu lar, não me sentia na idade da pedra, agora podia respirar com um pouco mais de tranqüilidade.
Contudo, subitamente, ao esgueirar-me lentamente pelo meu esconderijo de cobertores, vi novamente a sombra projetada e por uma fração ínfima de segundo, desejei a escuridão total, pelo menos não veria aquela tenebrosa sombra disforme, me observando de vez em quando.
Mas, tudo aquilo estava me cansando, ficar deitando ali, me escondendo era completamente humilhante para alguém da minha idade, já não era adolescente, para ser franco, já passara há muitos anos pela puberdade, mas, ali estava eu, oculto sob os cobertores, tremendo de medo de algo que não sabia o que era. Eu tinha duas opções, enfrentar meus medos ou simplesmente ficar ali até amanhecer e, julgando que nada demais poderia acontecer, fiquei por ali mesmo. Em silêncio total, para tentar ouvir qualquer coisa que indicasse que, aquele estranho e misterioso visitante tivesse partido de meu amado lar.
Por fim, a chuva torrencial acabou cedendo, até mesmo os trovões, agora eles pareciam estourar bem longe de meu bairro, bem longe de minha fértil imaginação, contudo, os relâmpagos ainda insistiam em iluminar o céu escuro e uma parte de meu quarto com sua luz pálida e mortal.
Agora a sombra havia desaparecido por completo, o silêncio invadira meu apartamento emprestando a ele aquele ar de solenidade digna a um velório. E, tirando essa pequena sensação, tudo parecia completamente normal por ali, lentamente fui descobrindo minha cabeça e assim que meus olhos puderam olhar ao redor, vi os olhos de meu relógio trabalhando incansavelmente. Ele marcava duas horas, mas eu sabia que estava errado, havia parado e ficara assim durante um tempo que mais parecia com uma pequena eternidade.
Mesmo assim, fui sentando-me em minha cama, reunindo coragem para levantar-me e ver o que verdadeiramente estava acontecendo por ali. Eu já estava colocando uma das pernas no chão quando ouvi um estrondo vindo de fora. Meu coração quase saltou pela minha boca, e eu mesmo não sabia como chegara ali embaixo tão rápido, apesar que, agora não importava saber como cheguei, importava que estava protegido, mesmo sabendo que não há formas de estarmos protegidos por um misero cobertor.
Com aquele pensamento, percebi que estava completamente a mercê de qualquer que fosse aquela estranha presença, digo presença, pois não sabia se era um simples ladrão, ou se era alguma alma penada vinda das profundezas do inferno para me assombrar? Eu não sabia, mas agora estava decidido, eu iria levantar-me dali e enfrentaria quem quer que fosse, como um homem de verdade e foi exatamente o que fiz.
Levantei-me de uma só vez e coloquei os pés no chão, assim que eles tocaram o carpete, senti a friagem subindo pelas minhas pernas e se espalhando por todo meu corpo. Estranhei aquela sensação. Seria possível ter entrado água em meu apartamento? Era simplesmente impossível, eu estava no sétimo andar. Coloquei os dois pés no chão e dei um impulso, colocando-me de pé, aproximei-me do criado-mudo, abri sua gaveta e revirei por um momento o pequeno espaço. Servia qualquer coisa que pudesse perfurar, machucar ou simplesmente inibir, quem quer que estivesse ali, mas, para meu desespero, tudo que havia ali naquela gaveta era um livro que há muito tempo julgara perdido e, algumas camisinhas usadas, era simplesmente grotesco.
Fechei a gaveta e comecei a caminhar lentamente, passo após passo em direção a porta entre aberta. Meus ouvidos e todos os meus sentidos estavam voltados para qualquer sinal de vida que se manifestasse além daquele quartel general que meu quarto tornara-se, mas, tudo era silêncio, ao menos em minha casa, lá fora, as pingueiras ainda eram ouvidas.
Continuei aos pequenos passos, e quando estava preste a sair, eis que um imenso relâmpago iluminou meu quarto, trazendo consigo o melancólico uivo do vento, logo em seguida, quase que imediatamente, a sombra negra surgiu novamente na parede, mas agora, ela parecia ainda mais agitada, sem pensar em mais nada e pego de surpresa, acabei pulando em minha cama, e para minha infelicidade, a parte de baixo acabou arriando ali mesmo, me senti como se estivesse em um hospital, agora, para complicar ainda mais minha situação, além de me manter coberto, tinha que ficar segurando na cabeceira. E assim continuei.
Fechei os olhos tentando adormecer, mas agora a posição não ajudava, se soltasse da cabeceira, meu corpo deslizaria até chegar ao chão, então me mantive não somente com os olhos abertos, mas também, todos os sentidos que pudessem me ajudar a fugir de alguma forma. E ali fiquei e aos poucos, tudo fora voltando ao normal, mas eis que de repente, um novo relâmpago clareia e o trovão agora falara alto.
Me encolhi, estava com medo, devo confessar, meu interior dizia que algo muito estranho estava para acontecer, e tudo que estava ao meu redor, agora parecia uma ameaça. O vento começou a soprar novamente e de repente, ouvi alguns baques surdos. Fechei os olhos e pela primeira vez, rezei.
Algo muito ruim parecia ter levantado daquele lugar, talvez tivera chegado a minha hora, ou seja, qualquer pessoa que pudesse servir de alimento. A janela do vizinho continuava batendo incansavelmente e ele parecia não se importar com o barulho que ela produzia, as batidas eram realmente fortes e escandalosas, mas ninguém parecia se incomodar, pois se tivessem incomodado, alguém teria dado algum fim aquele barulho.
Eu que não podia fazer nada referente a isso, apenas ficava nervoso e ansioso pela manhã de um novo dia, comecei a pensar que em breve o sol poderia nascer, afinal de contas, o gato Félix, estava marcando quase três e meia da manhã. A qualquer momento o sol poderia nascer e tudo voltaria ao normal, e, com certeza, anotaria os estragos e tomaria as medidas corretas para que não acontecesse novamente aquela situação.
Amanhã, esse era o plano para amanhã.
Cobri minha cabeça e voltei a posição fetal, era um pouco complicado, as pernas de minha cama estava quebrados devido ao excesso de adrenalina repentina no cérebro, mas acabei deitando mesmo assim, e o sono chegou rapidamente sobre meus olhos. Bocejei com imenso prazer e deixei os olhos se fecharem.
E assim comecei a sentir que estava prestes a adormecer, em breve estaria completamente longe de toda aquela conversa. Bocejei mais uma vez e fechei meus olhos para valer, agora eles estavam pesando demais e não podia impedi-los de se fecharem e assim o fiz. Depois de alguns míseros segundos, já sentia minha mente completamente anuviada devido ao estado de entrada do sono, até que, de repente, ouvi o barulho de vidraça se quebrando e de um único pulo, sai correndo em direção a cozinha.
Não estava pensando em mais nada, fora completamente instintivo, assim que sai do corredor, pisei em algo que levou-me ao chão no mesmo instante, ao cair no chão, senti minhas costas sendo congeladas pelo líquido que estava espalhado por ali, levantei-me com certa dificuldade, além de ter machucado minhas costas, minhas roupa estava completamente encharcada, minha cabeça girava, estava completamente desnorteado, mas pelo menos, o brilho sereno do sol da manhã, anunciava um novo dia e o fim de uma noite repleta de equívocos. Ao olhar minha cozinha tudo parecera ter sentido.
Mesmo um homem solteiro precisa comer de vez em quando, e quando se cansa de pizzas e lasanha congelada, nada melhor que uma boa alimentação frugal, naquele dia havia ido a feira e trouxera algumas laranjas, maçãs e mexericas, contudo, esqueci de guardá-las na geladeira e acabei deixando sobre a pia, o saco das laranjas estava aberto o que era a combinação perfeita com a janela da cozinha que deixara aberta.
Como na noite da tempestade ventou muito, a tabua de cortar alimentos, que sempre deixo na janela da cozinha, caiu sobre as laranjas que, lamentavelmente, foram caindo no chão que, como disse, era uma espécie de assoalho de madeira e que formaram aquele barulho de passos que ouvira. O som do vidro quebrado, infelizmente fora da minha janela, a pia estava coberta por cacos de vidros e também de uma antena Sky que era do vizinho do andar de cima, aos poucos as peças do meu terror foram se encaixando, agora só faltava a sombra que se esgueirava em meu quarto, mas não precisei ir muito longe, só precisei passar diante de meu quarto e ver que comprara um móbile de morcego para dar um charme a minha modesta residência. Eles estavam longe de minha porta, mas a linha era grande e a janela da cozinha estava completamente destruída, por isso eles balançavam periodicamente e por isso também que meu chão estava completamente molhado, em outras palavras, tudo que vira na noite anterior, fora apenas, produto de uma mente completamente excitada pela sua própria imaginação, agora restava apenas consertar os prejuízos, ou seja, arrumar a cama, secar o chão, conversar com o vizinho sobre a antena e os reparos que ele deveria pagar e também tirar aquele móbile de perto da lâmpada do corredor.

Fim

4 comentários:

  1. tche, dei uma olhada no teu texto. original. procura ler apos escrever alem de corrigir erros mais grotescos. eu tambem preferia nao ler mas nao funciona pois as vezes a gente faz cada cagada. abraços
    www.blogdaincerteza.blogspot.com

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  2. outro comentario: divida este texto em cinco capitulos com resumos. ai vai ficar 10
    abraços

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  3. Olá meu caro amigo.
    Obrigado pela a visita em meu blog e pelos comentários.
    Como sabe já viitei o seu blog e li os textos nele. Me atraiu bastate as estórias que nele vc colocou. Confesso que eu tenho paciência para ler. Mas muitos não os tem. Assim como no comment dito acima divita em vários capítulos. Acredito que irá chamar mais a atenção do público que deseja. Dentre os Blogs que gosto de ler há um cuja blogueira é excepcional em escrever romances policiais. Entre em no meu blog e e procure por "Alguém" (Blog Ocorrência 157) é muito bom. Ela tb trabalha com estórias bem compridas. Mas como ela separa em capítulos fica bem atraente para sempre dar uma olhadinha e verificar se ela postou algo de novo. Essa é a minha dica.
    Vc tem um grande futuro como contador de estórias.
    Abrçs,
    Trujillo

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